MUSTAFA INDJAI |                Levar livros e sonhos às crianças da Guiné-Bissau 

Nome: Mustafa Indjai

Idade: 34 anos

País: Guiné-Bissau

Mustafa Indjai tem 34 anos e é natural do Bairro do Quelelé, em Bissau. É educador de infância na Escola Infantil Lassana Cassama – a escola que ele mesmo criou – e é também um dos animadores da Toca-Teca, a primeira biblioteca itinerante da Guiné-Bissau. Foi em 2010 que, com 36 mil francos CFA no bolso (cerca de 54€), Mustafa decidiu abrir uma escola. Retirou as esteiras que serviam de teto ao seu quarto e colocou-as debaixo de uma mangueira perto da sua casa, no bairro do Quelelé. Dormiu muito tempo sem teto, mas não se importou. Com essa estrutura improvisada, começou a acolher crianças do pré-escolar e do ensino básico. No primeiro ano, contra todas as expectativas, conseguiu ter 36 crianças, do pré-escolar até ao 2.º ano. Cada um pagava entre 800 e 1000 francos CFA de propina mensal (entre 1.20€ e 1.50€), dinheiro que depois era dividido pelos seus três professores. Mustafa não recebia nada. “Não o fazia pelo dinheiro”, conta. “Liberdade, solidariedade e tolerância” tornou-se o lema da sua escola, a que deu o nome de Escola Infantil Lassana Cassama. Hoje, conta com 12 professores que dão aulas até ao 6.º ano. A luta pelos direitos das crianças, em especial pelo direito à educação, foi também desde cedo a luta de Mustafa. “Não posso dizer que fui uma daquelas crianças que viveu a infância de forma feliz. Com 10 anos saí de junto dos meus pais e fui criado pelo meu tio, que me levou para Mansoa com o objetivo de estudar. Mas não foi isso que aconteceu: eu estava lá apenas para trabalhar. Durante o período em que estive em Mansoa não consegui frequentar a escola. Há um nome na Guiné-Bissau para crianças que passam pelo mesmo que eu: meninos de criação”. Mustafa acabou por voltar para junto dos pais e, mais tarde, foi para Bissau para junto dos seus primos, onde conseguiu estudar até ao 11.º ano. Está, neste momento, a frequentar a licenciatura em Educação de Infância na Universidade Católica da Guiné-Bissau. Foi lá que conheceu o projeto Cultura i nô Balur e a Toca-Teca. Quando a FEC lhe propôs que se tornasse animador voluntário na primeira biblioteca itinerante da Guiné-Bissau, não hesitou.

“Tudo aquilo que a FEC está a fazer na Guiné-Bissau, de forma direta ou indireta, vai beneficiar os cidadãos guineenses, as comunidades e, consequentemente, o país.” Desde Fevereiro, Mustafa tem viajado pelo país acompanhado da Irmã Muskeba, sua colega de curso e a segunda animadora da Toca-Teca. Juntos, levam livros, jogos, contos, canções e sonhos a crianças de toda a GuinéBissau. “A Toca-Teca faz os adultos voltarem a ser crianças e ficarem com a cabeça nas nuvens. Quando chegamos a uma região, muitas pessoas nos pedem para tirarem fotografias e entrarem na biblioteca. Temos algumas canções que cantamos com as crianças e ainda hoje, quando estávamos a ir embora, as crianças ficaram a cantar e a dizer-nos “Tchau, Toca-Teca!”É algo único!” Mustafa apelidou a Toca-Teca de “segunda universidade”, devido a todas as experiências e conhecimentos que esta lhe tem trazido. Um dia, acordou e lembrou-se de uma música que poderia cantar com as crianças, e hoje não há nenhuma escola a que vá que não cante a letra “eu sou toca, tu és teca, eu leio um livro, tu lês um livro, nós lemos um livro na biblioteca móvel”. “A Toca-Teca tem uma importância enorme para a Guiné-Bissau pois está a levar livros a pessoas que nunca tinham tido acesso a eles. Para mim também tem sido muito importante. Eu não costumava viajar e agora estou a conhecer as diferentes realidades das diferentes regiões do país. A FEC está a ser muito boa para mim e para o desenvolvimento da Guiné- Bissau. São incalculáveis os ganhos que a Toca-Teca está a dar aos guineenses, tanto nas tabancas como nas cidades”.