Peça de Teatro sobre os Direitos Humanos em Angola
No passado dia 10 de dezembro decorreu em Luanda, no âmbito do projeto Promoção dos Direitos Humanos em Angola – Fase II, uma atividade para assinalar o 70º aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Lígia Roque, atriz e encenadora, foi convidada para, durante um mês, ensaiar com grupo de atores amadores uma peça de teatro ligada à temática dos Direitos Humanos.
Numa entrevista recente ao Mosaiko, falou dos principais desafios desta formação e da preparação deste espetáculo.
Foi convidada pelo Mosaiko para preparar uma peça teatral que será exibida no dia 10 de Dezembro deste ano e 24 de Janeiro de 2019. Como está a decorrer a preparação dos jovens?
Muito bem. As minhas expectativas estão a ser bastante ultrapassadas, tenho um grupo de 18 participantes, com uma média de idade de 20 anos, eles estão a corresponder muito bem. São muito criativos, atentos e concentrados. E, portanto, não vejo motivos nenhuns para que não se mantenham todos até ao fim e não façamos um bom espectáculo.
Apesar de uma longa experiência como professora de interpretação teatral, é a primeira vez que trabalha a temática de Direitos Humanos?
Sim. Embora tenha decidido não fazer assim, tão directamente quanto isso. Estou a dar uma formação e esse é um dos intuitos primários: dar uma formação aos participantes e, como resultado disso, fazer um espectáculo.
Vim aberta a várias possibilidades, é a primeira vez que estou em Angola. Nunca trabalhei com jovens angolanos, não tinha bem consciência de qual seria a formação deles, por isso vim com abertura para mudar as minhas ideias. Mas, na verdade, descobri que eles eram muito criativos e que têm uma capacidade de improvisar extraordinária.
No fundo, decidi falar dos Direitos Humanos de uma forma não tão directa nem panfletária. Escolhi um texto literário bastante poético e metafórico, queria que os Direitos Humanos fossem respeitados e, enquanto fazia uma releitura do texto “O sonho”, dos Trimpers, de repente pensei: Isto é tudo sobre os Direitos Humanos!
Eu própria fiquei muito surpreendida, alterei algumas coisas, adaptei para uma vertente mais pedagógica para fazer chegar às pessoas, a importância de saber quais são os nossos direitos e como colocá-los em funcionamento.
O primeiro espectáculo será já no dia 10, qual é a sua expectativa?
Foi muito pouco tempo, principalmente por ser um grupo que não tem muita experiência em termos de espectáculo. Agora, já têm capacidade de performance e linguagem, são muitos expeditos em termos retóricos. Mas é realmente muito pouco tempo e é um grupo que eu não conhecia, há aqui muitas componentes que dificultam, mas acredito vivamente que chegarei ao fim e que cumprirei os objectivos a que me propus e acredito que tenho uma equipa para o fazer, não só a equipa de jovens, mas também a do Mosaiko.
Há quanto tempo faz teatro?
Há muito tempo. Comecei a fazer teatro, assim mais à séria, no teatro universitário, há 35 anos. E depois fizemos uma companhia profissional em Coimbra (Portugal), onde eu estudava. Como não tinha formação em teatro, decidi ir estudar em Paris, estive lá um ano. E estudei teatro no mestrado. Tudo isso foi um processo que nunca parou.
Como é trabalhar a temática Direitos Humanos?
É muito desafiador, porque nos coloca questões que tem a ver com a complexidade e a simplificação. Porque se por um lado, os Direitos Humanos estão ancorados em realidades muito complexas e díspares, são ideias que tem que abranger uma série de países e de culturas muito diferentes, por outro lado, tem de ser necessariamente simples, porque são direitos que deveriam ser universais do ser humano. Os Direitos Humanos têm de passar as fronteiras e têm de ser suficientemente simples para passar fronteiras.
E como fazer isso num espectáculo? Isso para mim foi mais complicado, mas estou com curiosidade para ver como é que vai ficar. (risos)
Teatro é arte, arte é um dos elementos da Cultura, e em Direitos Humanos fala-se também do direito à participação na vida cultural. Acha que a componente artística é valorizada?
Quando as pessoas dizem que o que é importante não é cultura, o que importa é as pessoas terem o que comer, simplificando, eu costumo dizer: tirem tudo que é cultura da vida das pessoas (as pinturas, as fotografias, a música, o teatro, o cinema), tirem tudo isso e a vida das pessoas fica verdadeiramente miserável.
Esta foi uma iniciativa promovida pelo Mosaiko em parceria com a FEC, com o financiamento do Camões, I.P., da Misereor e com o apoio da Embaixada Portuguesa em Angola.
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