Reinventar-se em tempo de pandemia: para que ninguém fique para trás
O voluntariado missionário assumiu uma expressão ainda mais forte no contexto da Pandemia Covid-19. Esta pandemia que chegou sem aviso, apanhou todos desprevenidos. Os voluntários missionários não foram exceção. Alguns, em formação, ansiosos por partir, viram a sua data de partida adiada. Outros, no terreno, tiveram de regressar mais cedo. E outros, ainda, permaneceram em missão, alterando muitas das suas rotinas e atividades.
Como habitualmente, a FEC – Fundação Fé e Cooperação lançou o seu inquérito anual às organizações membro da Rede de Voluntariado Missionário para perceber que impacto teve a pandemia nos projetos e nas vidas dos voluntários: uns partiram antes da pandemia, outros adiaram a data de partida e outros regressaram mais cedo, tendo integrado projetos em Portugal, não deixando de ser e de viver missão.
“Os exemplos de readaptação e de resiliência vistos ao longo deste tempo que vivemos, e que se estenderá até ao final do presente ano, são imensos e, por essa razão, este ano não queremos apenas lançar números. Este ano queremos partilhar os exemplos e as vidas que se transformaram para que ninguém ficasse para trás.” – Catarina António, coordenadora da Rede de Voluntariado Missionário.
Fotografia: Marlene Monteiro | Voluntariado Passionista
Permanecer no terreno e ser semente de esperança
Alguns voluntários decidiram permanecer no terreno. Os seus dias tiveram de ser reorganizados, o encontro presencial teve de ser suspenso e o foco passou a ser o apoio às comunidades, não só no combate à COVID-19 (produzindo e distribuindo máscaras, demonstrando cuidados básicos de higiene, etc.), mas também na ajuda direta às populações que enfrentaram ‘pandemias’ igualmente graves como a fome ou o combate armado em alguns locais.
Salientamos alguns exemplos:
Os voluntários do Centro Missionário Arquidiocesano de Braga (CMAB), que se mantiveram no terreno, em Cabo Delgado, centro de conflitos armados, sem nunca “desarmar” em esperança e em caridade, e que afirmam “ora há mais angústia, medo, incerteza,… não muito diferente ao de outras vidas e realidades; ora há mais confiança e esperança de alcançar o final desta estranha forma de estar… que ainda assim não retira o entusiasmo deste ser Missão”.
Os missionários do Voluntariado Espiritano, que se reorganizaram e que apoiaram a comunidade local no combate às várias pandemias que enfrenta, sendo também sinal de esperança na comunidade em que estão inseridos e que referem que a missão, hoje, “vai muito mais além do que sair da zona de conforto. É necessário reinventar, redefinir os espaços onde nos movemos e tentar continuar o percurso que foi começado; mais do que nunca a missão não é só fora de portas… é a oportunidade de nos concentrarmos em atividades que fomos protelando anteriormente, aprofundar laços e fazermo-nos ainda mais família da família que nos acolhe”.
Os missionários do Grupo Missionário Ondjoyetu, que permaneceram em Angola, com todos os desafios que lhes foram apresentados, e que nos dizem “é muito estranho, porém há que criar alternativas e estratégias para lidar com esta realidade que a pandemia da Covid-19 nos traz, pondo-nos à prova enquanto cidadãos e desafiando-nos a ter reflexões mais profundas e que com fé e resiliência consigamos ultrapassar estes tempos”.
Na Etiópia, permaneceu um voluntário dos Leigos Missionários Combonianos, também forçado a permanecer em casa e a adiar o encontro com o povo, mas que ainda assim retira deste tempo esta mensagem: “A missão não está no muito fazer, senão no muito amar!”.
Voluntários que regressam e continuam em missão
Alguns dos voluntários que, no final do ano passado, haviam partido em missão, foram forçados a regressar a Portugal devido à pandemia e a questões de segurança e saúde pública. Ainda assim, regressaram, mas continuaram em missão.
Na Procura – Missões Claretianas, um voluntário regressou de São Tomé e Príncipe e integrou atividades de resposta concreta à pandemia (apoio a pessoas sem-abrigo, visitas a centros sociais, preparação e envio de materiais, etc.); No CMAB, uma voluntária regressou de Moçambique, integrando um projeto de voluntariado de apoio alimentar de emergência, em Braga; Nos Leigos Para o Desenvolvimento, 7 voluntários regressaram mais cedo de São Tomé e Príncipe e 3 de Angola, mas mantiveram-se em missão, integrando projetos com parceiros Jesuítas e, além destes projetos, a organização desenvolveu ainda a distribuição de cabazes a famílias desfavorecidas e afetadas pela Pandemia. Muitas organizações desenvolveram também projetos concretos face à pandemia COVID-19: a União das Misericórdias Portuguesas organizou-se para dar apoio às Misericórdias e outras instituições; a Associação Equipa d’África desenvolveu uma angariação de fundos para preparação e entrega de cabazes alimentares junto dos seus parceiros; os Irmãos Maristas desenvolveram projetos de apoio a crianças em risco. Estes são apenas alguns dos muitos exemplos dentro da Rede de Voluntariado Missionário.
Apesar da pandemia, voluntários continuam a partir
Este ano, no período compreendido entre janeiro e dezembro de 2020, os voluntários das entidades da Rede de Voluntariado Missionário vão partir em missões de curta e longa duração, sobretudo para Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe. Os voluntários partem principalmente para missões nas áreas de Educação e formação, Pastoral, Saúde, Animação Sociocultural, Agricultura, Construção de infraestruturas, Dinamização e organização comunitária, Empreendedorismo e Empregabilidade, e Capacitação de Agentes Locais, trabalhando com Jovens, Crianças, Famílias, Idosos, Mulheres, Homens, Técnicos de Associações, entre outros.
As principais marcas que os projetos de voluntariado Ad Gentes deixam nos voluntários(as) continuam a ser: aprendizagem de novas formas de ser/estar, continuação do apoio aos projetos locais a partir de Portugal, maior sensibilização para a interculturalidade, maior valorização dos recursos naturais (ex.: água), desejo de voltar para o país de missão para trabalhar em ONGD, empresas ou associações e maior consciência das interdependências globais.
Em Portugal, a missão também continua, sobretudo em missão ao longo do ano em projetos com periodicidade diária, quinzenal, anual (que vai desde uma vez por ano, a uma semana por ano, uma quinzena ou um mês por ano), atuando de norte a sul de Portugal Continental e também nos Arquipélagos da Madeira e dos Açores, sobretudo em projetos de Ambiente, Animação Sociocultural, Pastoral, Educação e Saúde, com Famílias, Idosos, Crianças, Jovens, Mulheres, Homens, Técnicos de Associações, Professores e a população em geral.
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