67% das guineenses já foram vítimas de algum tipo de violência
Uma em cada três mulheres guineenses já foi vítima de mais do que um tipo de violência por parte de homens e 80% da violência tem origem no seio familiar, sendo o pai o principal agressor, segundo o Relatório da Situação da Mulher na Guiné-Bissau.
Neste estudo foram inquiridas 1022 mulheres nas comunidades das regiões de Gabu e Bafatá, no leste, e Quinara e Tombali, no sul da Guiné-Bissau.
Apesar de a violência doméstica ser considerada um crime público no país, a maioria dos casos não chega à justiça. O silêncio das vítimas pode ser explicado pelo facto de 50% das inquiridas considerar a violência doméstica como aceitável e apenas 23% conhecer os serviços e entidades que prestam apoio às vítimas de violência contra a mulher.
O relatório foi produzido no âmbito do projeto “Nô na cuida de nô vida, mindjer – Emancipação e Direitos para Meninas e Mulheres na Guiné-Bissau”, implementado pelas ONG Mani Tese, pela FEC e pela ENGIM, com o apoio financeiro da União Europeia, da Kindermissionswerk, do Instituto Camões, da Chiesa Valdese e da Conferência Episcopal Italiana, com o intuito de caracterizar e diagnosticar a situação das mulheres no que se refere à violência contra as mulheres e raparigas, cujos resultados foram divulgados hoje, assinalando o Dia Internacional da Eliminação da Violência Contra a Mulher.
Para Carla Pinto, representante da FEC na Guiné-Bissau, “é urgente envolver e responsabilizar todos: homens, mulheres, líderes, pais, mães, avós, avôs, pela forma como educam e pelos seus resultados”.
“Poderá uma comunidade evoluir sem garantir os direitos básicos dos seus cidadãos? Não, não pode. Não podemos estar juntos na violência!”, vinca.
Entre os indicadores de violência contra a mulher guineense, o estudo concluiu que o casamento e a gravidez precoce fazem parte da realidade das meninas e mulheres do país e que quase metade das inquiridas afirmaram ter casado com menos de 18 anos, 36% entre os 15 e os 18 anos, e 10% antes dos 15 anos. A grande maioria (81%) assume ter-se casado por decisão dos familiares e 35% engravidou antes dos 18 anos.
A violência não está presente apenas na vida de mulheres que têm um relacionamento. 29% das mulheres inquiridas revelou já ter sido vítima de violência por um não parceiro. O estudo revelou ainda que as mulheres sofrem de violência repetidamente, uma vez que os atos reportados aconteceram desde os 15 anos, e uma a quatro vezes, por um a três agressores diferentes.
No que se refere à violência sexual, 54 meninas e mulheres foram vítimas de violência sexual e 47 vítimas de tentativas de violação.
O estudo analisou ainda a Mutilação Genital Feminina [MGF], crime na Guiné-Bissau desde 2011, e apurou que 60% das mulheres inquiridas foi submetida a esta prática nefasta. No que se refere à perceção sobre esta violação dos Direitos Humanos, apesar de a maioria considerar que esta prática não deve continuar, 19% da amostra ainda acredita que a MGF traz algum benefício: respeito (37,3%) e possibilidade de obter dinheiro e/ ou bens materiais (14,5%).
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