No sexto país mais pobre do mundo, segundo dados de 2018 do FMI, onde mais de 70% da população não tem eletricidade, não se compreende como esses dividendos serão alguma vez distribuídos, nem como protegerão Moçambique, um dos países mais vulneráveis às alterações climáticas: segundo dados do PNUD divulgados pela USAID, mais de 60% da população vive em zonas costeiras, e mais de 70% da população depende de agricultura sensível ao clima, dispondo de menos de 1,90USD por dia. De acordo com dados do Instituto Nacional de Gestão de Calamidades de 2017, divulgados pela Livaningo, em 20 anos, mais de 8 milhões de moçambicanos foram afetados por desastres naturais causados por fenómenos naturais (sobretudo inundações, secas e ciclones). Isto não contabiliza as vítimas dos ciclones Idai e Keneth, de 2019, que se estimam entre os 2.5 milhões de pessoas só em Moçambique. Face a este cenário desanimador, encontramos, felizmente, vários moçambicanos resilientes e dispostos a advogar pela mudança de paradigma.
De passagem por Maputo, a região mais desenvolvida do país, tivemos a oportunidade de conhecer a associação Mozarte, parceira da FEC, onde trabalha em residência artística o artesão e ativista Andrade Guarda, promotor convicto da Agenda 2030. Também em Maputo, fomos recebidos por Manuel Cardoso, da Livaningo, uma Organização não Governamental Ambiental (ONGA) moçambicana bastante ativa e com presença nos fóruns internacionais, e que nos apresentou a um dos produtores de fogões melhorados que tem vindo a apoiar, o senhor Alberto Maluana. Na província do Niassa, por contraste, a região mais periférica do país, descemos primeiro de Lichinga a Massangulo, no distrito de Ngauma, onde se encontra a missão centenária dos Missionários da Consolata, um lugar remoto de extrema beleza. Aí encontrámos o Pe. João Nascimento e uma comunidade pacífica, onde a luta contra a pobreza coincide com a valorização dos recursos naturais. Seguimos para Cuamba, “capital do algodão”, onde conhecemos Paulino Paissone, produtor agrícola e parceiro da FEC na supervisão das Escolinhas Comunitárias do Niassa, que, ao todo, acolhem mais de 1.000 crianças na província. Todos eles mostram-nos, ao mesmo tempo, o mundo como ferida e como dom; as incoerências de algumas políticas; as necessidades de cada contexto e os caminhos para um mundo mais justo e sustentável, onde tudo está ligado e ninguém fica para trás.