Angola
Angola
Este Luso Fonias é dedicado a Angola, que no dia 11 comemora 41 anos de independência. Depois de ultrapassada a guerra civil, Angola conheceu um período de grande crescimento económico, baseado sobretudo na exploração do petróleo. Mas continua a luta dos angolanos por um país com menos desigualdades, em que todos os cidadãos possam exercer os seus direitos. A Rádio Eclesia de Angola faz-nos o retrato do país, a poucos meses de eleições gerais, e dá-nos conta de uma recente posição dos bispos angolanos. Faremos também o lançamento de uma nova campanha Presentes Solidários, dinamizada pela Fundação Fé e Cooperação.
Na opinião do P. Tony Neves – ‘Angola… por mais justiça’
“Angola celebra o aniversário da independência, a 11 de novembro. Foi em 1975. Faz muito tempo. Até 2002 foi difícil viver-se em Angola por causa da guerra civil. Com o cessar fogo, abriram-se as estradas e rasgaram-se novos caminhos em direcção ao futuro. A paz do fim dos combates, essa já chegou e esperamos que tenha vindo para ficar. Mas a paz dos corações, aquela que nasce de uma reconciliação profunda, essa ainda é um projecto em construção. As feridas profundas de uma longa e cruel guerra civil não são fáceis de cicatrizar. E a prática habitual de atirar os problemas para debaixo do tapete não os resolve, adia-os, agravando-os. Também a paz que nasce da justiça e a aperfeiçoa, essa também ainda não chegou a Angola. Todos os indicadores apontam para um país de contrastes sociais gritantes, com meia dúzia de angolanos (e não só!) a ser senhores de quase tudo, quando o povo não tem quase nada e nem sequer pode gritar muito alto a clamar pelos seus direitos e dignidade. Está ainda por percorrer – diria Mandela – o longo caminho para a liberdade. E também para uma democracia que seja, na realidade, poder do povo, mesmo que a actual governação resulte do voto em dia de eleições.
Se não gostasse de Angola e dos angolanos, nem sequer deixava que esta data me marcasse. Mas gosto, e muito! É a minha segunda pátria e habituei-me a fazer festa com as alegrias de Angola e a chorar com as desgraças dos angolanos. Quero continuar assim.
Por isso, preocupa-me muito o quadro traçado pelos Bispos de Angola, na última Assembleia Plenária e destaco algumas das muitas preocupações salientes: ‘a crise económico-financeira continua a afectar o poder de compra das famílias, agravando ainda mais a pobreza, o desemprego e algum desespero entre a população; assiste-se a uma desflorestação vasta, simultânea e generalizada em todo País com o abate industrial de árvores e outras práticas hostis à biodiversidade, perigando gravemente o futuro do nosso meio ambiente e das gerações vindouras; a desumanidade com que estão a ser feitas as demolições, deixando famílias inteiras a mercê da miséria e do sofrimento, bem como a manutenção por tempo indeterminado de famílias diferentes numa mesma casa; a ocupação prepotente de grandes extensões de terras para fins agro-industriais inconfessos e gananciosos, com total desrespeito para com as comunidades aí residentes que, impotentes, assistem a destruição das suas zonas de transumância, de agricultura familiar e até dos seus cemitérios, gerando não poucos conflitos; a falta gritante de medicamentos nos hospitais públicos é outro grande problema que está na base do aumento da taxa de mortalidade, sobretudo, infantil e do recurso à prática da feitiçaria; o desemprego galopante entre os jovens que está a provocar o desespero, incertezas e o aumento da criminalidade e assaltos violentos em todo o País’.
Apesar de todos estes sinais de preocupação, Angola está cheia de futuro, se os governantes e o povo quiserem dar o seu melhor. Parabéns e coragem! Dou graças a Deus pelo grande dom da independência. Felicito Angola por todos os passos já dados na direcção da liberdade, da democracia, da justiça, da paz e do desenvolvimento.”


