Luta contra a pobreza
Luta contra a pobreza
Este Luso Fonias é dedicado à luta contra a pobreza, a partir da experiência da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal. Esta organização, que celebra 25 anos de atividade no nosso país, tem sido responsável pela publicação de vários estudos sobre a realidade da pobreza e pela preparação de uma estratégia nacional para combater as suas causas. Contamos com o testemunho de Sandra Araújo, directora executiva da Rede Europeia Anti-Pobreza em Portugal. O Padre Tony Neves, no seu comentário habitual, evoca a vida do professor Alfredo Bruto da Costa, falecido recentemente, ele que dedicou toda a vida a estudar as questões da pobreza e da desigualdade social.
Na opinião do P. Tony Neves – ‘Alfredo Bruto da Costa’
“Acreditava que é possível um mundo sem pobreza e lutou por esta causa até ao fim. Aliou competência académica e profissional com autoridade ética e moral. Com humor dizia que estudou engenharia e passou a vida no mundo da sociologia (doutorou-se nela!) e economia. O seu vastíssimo curriculum mostra um percurso que alia competência e cidadania: foi Ministro dos Assuntos Sociais, Presidente do Conselho Económico e Social, Conselheiro de Estado. Tudo altos cargos a que ele associou outros compromissos: foi, por exemplo, o Presidente da Comissão Justiça e Paz da Igreja católica em Portugal.
Convicto, livre, aberto, frontal, comprometido…eis palavras que fui ouvindo e lendo após a sua morte, aos 78 anos, em Lisboa. Lutava contra um capitalismo ultra-liberal, o tal que o Papa Francisco diz que mata…e mata mesmo! A sua morte ocorre no momento em que o Papa Francisco pede perdão aos sem abrigo de todo o mundo pelos cristãos que vêem a miséria de quem vive na rua, mas passam ao lado! Também coincide com a celebração dos 25 anos da Rede Europeia anti-Pobreza.
O investimento de Bruto da Costa na vertente académica é notável. Foi um dos meus melhores professores no Curso de Comunicação social na Católica, em Lisboa. São citadas e consideradas as suas investigações sobre a pobreza em Portugal, sempre a apontar portas de combate a este flagelo que vitima milhares e milhares de pessoas por este país acima e abaixo.
O seu funeral, no Campo Grande (Lisboa) mostrou manifestações de apreço pela vida e missão de ABC. Marcelo Rebelo de Sousa apresentou-o como um lutador pela justiça, igualdade e solidariedade, um homem que lutou pelos mais pobres e excluídos. D. Manuel Clemente disse que ele somou o desafio da Fé à intervenção marcada pela caridade, pela acção social junto dos mais pobres. Recordou ainda que a Boa Nova aos pobres de que fala Cristo era a sua inquietação constante.
Fui aluno, li muito do que ele escreveu, estive em diversas conferências suas, sempre me considerei um admirador. Recordo uma conferência nas Jornadas Missionárias Nacionais, em Fátima, onde ele começou por mostrar o seu humor habitual: ‘alguns querem polir o meu nome e chamam-me ‘Brito’ ou ‘Bruno’. Mas eu sou ‘Bruto’ mesmo!!!’. Nessa mesma intervenção, ele apresentava os cristãos como aqueles que amplificam os gritos dos pobres que só podem falar em surdina. Temos que ser a vez e a voz dos sem voz e sem vez.
Deixou-nos a 11 de Novembro uma herança enorme. Cabe-nos recebê-la de braços e corações abertos e, tal como se faz com os talentos, é preciso pô-la a render. Os pobres vão agradecer.”


