Empreendorismo Social
Empreendorismo Social
Este Luso Fonias procura conhecer um projecto com um sabor muito especial. No concelho de Paços de Ferreira, a empresa Paladares Paroquiais vende deliciosos produtos gastronómicos, que vieram revitalizar algumas tradições gastronómicas da região. A receita da sua venda permite o funcionamento dos centros sociais paroquiais de Arreigada, Ferreira e Frazão, três paróquias geridas pelo Pe. Samuel Guedes, que neste Luso Fonias fala-nos deste projeto “100% social e 100% natural”.
Na opinião do P. Tony Neves – ‘A arte de empreender’
“Há palavras que atravessam os séculos e outras que chegam de mansinho. ‘Empreendedorismo’ é uma das últimas a chegar às nossas conversas e parece que veio para ficar. Pelo menos, todos falam dela como caminho de solução para muitos dos problemas que afligem as populações hoje. Estão esgotadas as velhas receitas e há que inovar para rasgar novos caminhos de futuro.
As tecnologias da comunicação, aliadas a todas as linhas de invenção, ajudam a dar corpo a esta inovação que se exige. Mas, muitas vezes, empreender é sinónimo de criar a partir do mais simples das vidas de cada pessoa e comunidade. Dou exemplos: as festas dos padroeiros das aldeias são cada vez mais caras e o povo dá cada vez menos dinheiro para elas. Por isso, a escolha é clara: ou inventamos formas de arranjar dinheiro ou acabamos com estes momentos únicos de congregação de famílias e de animação em comunidade. Conheço casos de terras que já não realizam a sua festa anual, o que é um desastre comunitário; mas conheço também quem tenha ousado inventar novas formas de mobilizar o povo e de captar apoios financeiros. Um caso interessante é o da minha pequena aldeia natal, Jancido, na Paróquia da Foz do Sousa, no Concelho de Gondomar. O Santo Ovídio sempre foi uma festa de referência. Ao verem os orçamentos a aumentar de ano para ano, começou a ser difícil formar uma Comissão de Festas. Até que um grupo de homens aceitou o desafio e começou bem cedo a inventar eventos: promoveram jantares com os que passaram na Escola Primária em diferentes anos; prepararam um trilho belíssimo junto ao rio e pelos montes da aldeia, organizando ‘caminhadas’; lançaram artistas para a linha da frente com a organização de noites de teatro; convocaram o povo para tardes e noites de cinema; cozinharam pratos populares para que as pessoas viessem comprar e levar para casa; publicaram calendários de parede com foto da Capela Nova… Enfim, o povo ficou todo envolvido e mobilizado e a festa foi um enorme sucesso. No ano seguinte, foram as senhoras e meninas a tomar conta da Comissão e o sucesso desenha-se semelhante…ou ainda melhor! Este é apenas um pequeno exemplo a mostrar que ainda há muito espaço aberto à criatividade e inovação. Não está tudo inventado e, por vezes, as receitas mais simples são as que geram maior sucesso.
O que falei sobre a organização de uma festa de aldeia pode aplicar-se a muitos contextos e situações. Há muitas instituições que quase cumprem a sua missão com o recurso a dinâmicas de empreendedorismo social, focado nas ondas de solidariedade que provocam. Há que inovar e não ter medo. O futuro constrói-se com boas vontades, competência e muita criatividade. Ousemos inovar sempre!”