Verdade, autenticidade e coerência nas Jornadas Nacionais de Comunicação Social
Como comunicar com eficácia e meios limitados a partir das organizações católicas? Como chegar a mais públicos e criar interesse? É possível silenciar o ruído, a desinformação e a falsidade? Que papel tem a inteligência artificial nisto tudo? As Jornadas Nacionais de Comunicação Social 2025, organizadas pela Agência Ecclesia, andaram por aqui e por muitos outros lados, nos dias 25 e 26 de setembro, no Seminário Maior de Coimbra.

A autenticidade nunca esteve tão na moda. Falar a partir daquilo que somos, sem subterfúgios e artifícios, é, cada vez mais, uma prerrogativa para ser eficaz a comunicar num ambiente mediático saturado. É mais difícil do que parece e, muitas vezes, corre-se o risco de ficar a falar sozinho. De ficar no grupo mais pequeno. Mas é assim quando se quer falar de um lugar de Verdade. E que lugar é esse? Quer-se “comunicar sem corantes e sem conservantes”, como propõe o mote das jornadas deste ano?*
Como salientou o Padre Jesuíta e “missionário digital” Paulo Duarte, é importante “trabalhar as sombras” para nos encontrarmos. É a partir daí que nos conhecemos e saímos para o mundo. “A verdade é um poliedro”, considerou, sendo corroborado pela sua contraparte na discussão, a Jornalista Clara Almeida Santos: nunca conseguimos abarcar a totalidade da realidade. Estamos condenados a ter apenas vistas parcelares do objeto, a partir de um ângulo, um ponto de vista, uma perspetiva.
Mas quem parte de uma postura de interrogação está aberto à aprendizagem e a empatia. Para o Químico e Professor Universitário João Paiva, a atitude de escuta, a atitude de Cristo, é radicalmente diferente do entrincheiramento do populismo contemporâneo, que muitas vezes se reivindica cristão. A busca da verdade é uma postura científica. E o populismo não gosta de ciência, de química e muito menos de matemática.

As experiências de comunicação são diversas, mas as boas práticas vão-se tornando evidentes à medida que a conversa progride. E o tempo é uma função da entropia, como tão claramente sustentou João Paiva. Todos os sistemas evoluem para maiores graus de desordem.
Neste contexto, enquanto se aprofunda o caos, devemos ser simples. Não precisamos de estar em todos os lugares, mas nos lugares certos, onde efetivamente queremos e precisamos de estar. Passar de uma postura de reação para uma postura de posicionamento é uma evidência. A estratégia deve ser clara e prévia, mas suficientemente flexível e aberta ao mundo real. Primeiro a intenção e só depois a mensagem e os meios. É importante conhecer a fundo com quem queremos falar. E não queremos falar com toda a gente, nem para toda a gente. O contacto com a gestão deve ser perene.
Depois de tudo, vem a ação. Os meios são sempre limitados, mas “nunca gastámos muito dinheiro”, relembrou Rita Carvalho, que dirige o Gabinete de Comunicação da Companhia de Jesus. E hoje em dia, com os meios digitais, é possível comunicar com ferramentas mais intuitivas e de baixo custo. Mas é fundamental conhecer o algoritmo e colocá-lo a trabalhar a nosso favor. A lição é: compreender o público e o algoritmo.

“Toda a gente usa, mas ninguém diz que o faz.” Para o Diretor Digital do Grupo Renascença, Nelson Pimenta, os modelos de linguagem de inteligência artificial são uma ajuda fundamental para o que se faz atualmente no campo dos media. Permitem acelerar muito o processo de trabalho, mas devem ser usados como “estagiários” e menos ao nível da produção direta de conteúdos.
João Paiva, alterando entre química e filosofia, questiona-se sobre o impacto do maravilhoso mundo novo da nanobiotecnologia na sociedade. Será a inteligência artificial uma singularidade? Conseguiremos usar estes desenvolvimentos para nos humanizarmos? Daqui a pouco tempo, poderemos viver até aos 400 anos. Mas não será a morte uma questão moral?
*Todas as comunicações das Jornadas Nacionais de Comunicação Social 2025 podem ser revistas na integra em vídeo.
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