viver sabendo esperar
O QUE É PARA TI VIVER SABENDO ESPERAR?
chave de leitura
Lembramos os 8 pilares da Associação Casa Velha presentes em cada um dos episódios. Porque mais do que a meta, o importante foi o modo como a Laura e a Madalena viveram este caminho. Estas 8 formas de viver foram uma grande ponte de diálogo
Nesta viagem, o aprender a saber esperar, na estação pelo comboio, na estação por alguém que nos acolha, por alguém que nos leve, ajuda-nos a compreender melhor a «escola da paciência» que rasga espaço e tempo para o encontro, o inesperado. É uma sabedoria que aprendemos com a própria Terra.
«O ritmo da Natureza ensina-nos a grande marca do Tempo em que se entra, de ritmo lento, natural, que nos ensina a espera, bem expressa nas estações do ano. Que nos ensina a fidelidade, o abandono da pequena semente que, sem vermos e sem sabermos como, vai crescendo. A espera pelo eternamente inacabado, de ainda não consumado, mas ao mesmo tempo de já atingido, em cada pequena etapa. O gozo de cada passo do caminho, mesmo sem saber onde nos leva.» [inspirado nos 8 Pilares da Vida na Associação Casa Velha]
Ao longo da vida não vão faltando oportunidades de saber oferecer o tempo e deixar que o tempo nos ensine a resiliência. Saber respeitar «a minha natureza» e os ciclos da natureza. A consciência que não controlo tudo, acolher a impotência e entregar essa fragilidade. Saber esperar pelo Outro e os seus tempos e ritmos. «Precisaríamos talvez dizer a nós próprios e uns aos outros que esperar não é necessariamente uma perda de tempo. Muitas vezes é o contrário. É reconhecer o seu tempo, o tempo necessário para ser.» José Tolentino Mendonça.
Que luz nos dá este pilar para um olhar mais amplo e integral sobre o nosso consumo e produção?
Viver sabendo esperar num mundo em que temos tudo à distância de um clique, faz-nos mais conscientes dos nossos limites e liga-nos de volta à terra e aos ritmos da Natureza.
DIÁRIO DE BORDO
Queríamos fazer tudo a pé e à boleia mas rapidamente ficou claro que não haveria tempo. Adoptámos, por isso, também o comboio (…) Somos intensas… o que nos ajuda a aterrar em cada momento. Mas mais do que isso somos pessoas lentas, interiormente. Precisamos do nosso tempo para digerir cada encontro. Esta aventura fez-nos conhecer tantas pessoas e sítios que nos levaram a um outro lugar. (…) Embaladas por uma viagem rápida o suficiente mas que nos deixava contemplar a paisagem a mudar através de grandes janelas, chegámos a Barcelona felizes e prontas para seguirmos para os Pirenéus. Assim que chegámos ao guichet, este próximo comboio nunca tinha existido nem ía acontecer. (…) Ligámos a todas as pessoas possíveis e imaginárias e depois de quase três horas na estação — onde considerámos dormir mas fechava às 21h — fomos recebidas por uma pessoa que parecia não ter tempo: «Podem vir, mas já tenho um jantar, chego pelas 23h». (…) Estivemos a fazer tempo e no fim perdemo-nos. As linhas de metro e as indicações não batiam certo e acabámos por chegar bem mais tarde do que o combinado. (…) Depois de tantos desencontros, quando nos abriu a porta, fez-se o tempo certo: havia braços abertos à nossa espera.
Laura & Madalena, Barcelona
PROJETOS VISITADOS
Boskanter, Brakel, Bélgica
Laudato Si § 209. A consciência da gravidade da crise cultural e ecológica precisa de traduzir-se em novos hábitos. Muitos estão cientes de que não basta o progresso actual e a mera acumulação de objectos ou prazeres para dar sentido e alegria ao coração humano, mas não se sentem capazes de renunciar àquilo que o mercado lhes oferece. Nos países que deveriam realizar as maiores mudanças nos hábitos de consumo, os jovens têm uma nova sensibilidade ecológica e um espírito generoso, e alguns deles lutam admiravelmente pela defesa do meio ambiente, mas cresceram num contexto de altíssimo consumo e bem-estar que torna difícil a maturação doutros hábitos. Por isso, estamos perante um desafio educativo.
À chegada a Bruxelas, o Giorgio Gotra (CIDSE) não só as acolheu em sua casa, como as levou e apresentou a quem, como nós, acredita – e vive! – um outro estilo de vida. Sandór Neubauer, recém-chegado à CIDSE também se juntou à viagem de comboio, para finalmente conhecerem a quinta Boskanter, através de quem lá vive: Rob Hillen. A Boskanter é uma organização belga sem fins lucrativos enraizada numa quinta onde é possível experimentar e partilhar um estilo de vida assente na suficiência e no respeito pelo planeta, tendo como marca os processos artesanais, simples e responsáveis.
Huerto Hermana Tierra, Madrid, Espanha
https://www.huertohermanatierra.org/
Da SERCADE – SERviço dos CApuchinhos para o DEsenvolvimento e a Solidariedade. https://www.sercade.org/
ODS 8.8 Proteger os direitos do trabalho e promover ambientes de trabalho seguros e protegidos para todos os trabalhadores, incluindo os trabalhadores migrantes, em particular as mulheres migrantes, e pessoas em empregos precários
Laudato Si §128: «ajudar os pobres com o dinheiro deve ser sempre um remédio provisório para enfrentar emergências. O verdadeiro objectivo deveria ser sempre consentir-lhes uma vida digna através do trabalho.»
Laudato Si §210: «há educadores capazes de reordenar os itinerários pedagógicos duma ética ecológica, de modo que ajudem efectivamente a crescer na solidariedade, na responsabilidade e no cuidado assente na compaixão.»
Foram acolhidas pelo mentor de agricultura dos jovens migrantes que trabalham na horta, Oscar Roizo, com quem podemos aprender um pouco. Também foram recebidas por Inma Martín Alonso, técnica social, que acolhe escolas e adultos na horta, consumidores madrilenses a quem chegam os produtos vindos de curta distância sensibilizando assim a Comunidade para os problemas da inserção social de migrantes e para a responsabilidade ecológica.
Orti dei Terzi, Cerveteri, Itália
Laudato Si § 180: Além disso, a acção política local pode orientar-se para a alteração do consumo, o desenvolvimento duma economia de resíduos e reciclagem, a protecção de determinadas espécies e a programação duma agricultura diversificada com a rotação de culturas. É possível favorecer a melhoria agrícola de regiões pobres, através de investimentos em infra-estruturas rurais, na organização do mercado local ou nacional, em sistemas de irrigação, no desenvolvimento de técnicas agrícolas sustentáveis. Podem-se facilitar formas de cooperação ou de organização comunitária que defendam os interesses dos pequenos produtores e salvaguardem da predação os ecossistemas locais. É tanto o que se pode fazer!
Claudia Alongi (FOCSIV) e o marido prontamente se disponibilizaram para as levar a esta quinta que conheciam, numa aldeia da periferia de Roma. Massimo Bistacchia, proprietário, conta como tudo começou por ser a sua casa e horta, posteriormente horta comunitária, que lentamente se foi expandindo, passo a passo até aos actuais 8,5 hectares. Hoje em dia tem clientes fixos e um espaço de venda em Roma. Situada a 40 km de Roma, Orti dei Terzi é uma quinta de agricultura biodinâmica certificada, com mais de 40 espécies cultivadas respeitando o ritmo das estações.
agradecimentos
Claudia Alongi e marido, Francisca Sampayo, Giorgio Gotra, Massimo Bistacchia e mulher (ORTI DEI TERZI), Oscar Roizo (HUERTO), Rob Hillen (BOSKANTER), Sandór Neubauer.
INTERPELAÇÃO DE ENVIO
O QUE É PARA TI VIVER sabendo esperar?
On The Way é uma iniciativa promovida pela Fundação Fé e Cooperação, a Associação Casa Velha e a CIDSE no âmbito dos projetos Juntos pela Mudança II e Europa + Justa.