Fidelidade, acompanhamento e permanência. A FEC segundo Ana Patrícia Fonseca, nova Diretora-Executiva
Socióloga de formação, mãe de três crianças, Ana Patrícia Fonseca chega à Direção-Executiva da Fundação Fé e Cooperação depois de mais de 16 anos ao serviço na instituição. Pelo caminho, coordenou os departamentos de Educação para o Desenvolvimento e Advocacia Social e de Comunicação, tendo ainda representado a FEC na presidência da Plataforma Portuguesa das ONGD, entre 2021 e o primeiro semestre de 2024. Em discurso direto, partilha aqui a sua visão para a Fundação, num mundo polarizado e permeado por desinformação.

Chega à Direção Executiva da FEC depois de mais de 16 anos na organização. Como é assumir a liderança de uma organização que conhece tão bem?
Ao longo dos últimos 16 anos procurei sempre ser fiel à missão, aos princípios e valores da FEC, procurando traduzi-los através do meu trabalho. Enquanto Diretora-Executiva, o meu foco é o mesmo: trabalhar para promover o desenvolvimento humano integral, através da construção de uma sociedade onde cada pessoa possa viver com dignidade e justiça.
Agora, os desafios que hoje coletivamente enfrentamos, são talvez mais complexos que os desafios que nos eram colocados em 2008, ano em que integrei a equipa. Há desafios que permanecem, alguns de forma mais acentuada que há 16 anos, sobretudo com os impactos da pandemia de COVID 19, e que ainda hoje são sentidos pela maior parte das pessoas e organizações com que trabalhamos. A crise pandémica agravou os níveis de pobreza e as desigualdades entre diferentes regiões do mundo, e dentro dos países; e fez recuar 10 anos os índices de desenvolvimento humano, sobretudo nas áreas da saúde e educação. Por outro lado, as consequências das alterações climáticas são hoje uma ferida na Criação, que necessita de cuidado e reparação. Ao mesmo tempo, os conflitos violentos que ressurgiram nos últimos anos, ameaçam a paz mundial e têm conduzido a inúmeras crises humanitárias, forçando milhares de pessoas a abandonar as suas casas e os seus países. Os fenómenos de desinformação, que se propagam especialmente no mundo digital e nas redes sociais, e que tantas vezes condicionam opções e ameaçam as democracias, são desafios novos, que não existiam com esta dimensão em 2008.
O momento que vivemos acrescenta, por tudo isto, urgência à necessidade de reflexão sobre as dinâmicas internacionais, a complexificação do sistema de governação global e a necessidade de fazer emergir uma nova ética das relações internacionais – como nos propõe o Papa Francisco na sua encíclica Fratelli Tutti -, capaz de construir relações fraternas e fecundas entre países, assentes na paz e na solidariedade internacional. Hoje, temos também acordos e compromissos internacionais mais robustos, que há 16 anos não existiam, assim haja vontade política para os implementar, como a Agenda 2030 para o Desenvolvimento Sustentável, o Acordo de Paris, o empenho legislativo na coerência das políticas para o desenvolvimento, entre outros, que são oportunidades de reforçar as relações entre países, num diálogo entre pares, que sublinhe a solidariedade entre as nações.
A FEC, uma organização de base, que trabalha com as pessoas e com as organizações parceiras numa relação de estreita proximidade e de presença, tem a responsabilidade de levar todo o seu património de conhecimento dos contextos que tão bem conhece para os debates nacionais e internacionais sobre a Cooperação Internacional para o Desenvolvimento, procurando dignificar a vida de cada pessoa e de cada comunidade que confia em nós. E é isso que continuaremos a fazer. Vivemos inquietos com a realidade que não dignifica as pessoas, mas convictos de que a podemos transformar. E é esta convicção que nos põe a trabalhar, que nos abre à esperança de que nalgum dia, nalgum lugar, a vida de alguém vai ser melhor por via da nossa ação. Por isso, assumir a Direção Executiva da FEC, depois de 16 anos de trabalho na organização, é dar continuidade à procura permanente de soluções e respostas que cada momento histórico nos coloca, enquanto indivíduos e enquanto comunidade global.

Em que momento é que a FEC se encontra e para onde deve caminhar?
A FEC é uma organização sempre em construção, que se coloca numa atitude de permanente leitura e análise das realidades onde se insere, em diálogo com as pessoas, as comunidades, os parceiros, os governos e todos quantos partilham um mesmo contexto. E, neste modo de proceder, que é constante, há momentos em que nos obrigamos a uma reflexão mais profunda e alargada. A esses momentos, chamamos de reflexão estratégica. A última aconteceu entre 2015 e 2016, e deu origem ao Plano Estratégico FEC 2017, que orienta a nossa intervenção até hoje.
Neste momento, estamos de novo em tempo de reflexão estratégica. Como dizia há pouco, há novos desafios e isso exige-nos uma análise cuidada e aprofundada dos contextos onde atuamos, sejam contextos geográficos, temáticos ou de áreas de intervenção. Por isso, estamos agora numa fase de convocar as equipas presentes em Angola, Guiné-Bissau, Moçambique e Portugal, reunir parceiros, financiadores e doadores e, claro, ouvir as pessoas com quem diretamente trabalhamos e que são o sentido último do nosso trabalho. Diria que estamos numa fase de leitura crítica dos desafios globais e da realidade que vivemos em cada um dos territórios onde marcamos presença, para melhor a compreender e atuar nela, com o propósito de dignificar a vida das pessoas e da Criação. E, neste sentido, estamos também numa fase de escuta – interna e externa – para melhor compreender as nossas capacidades e forças, mas também as nossas ineficiências e fragilidades, com o propósito de poder fazer sempre melhor. Somos uma organização a caminho, que avança tanto quanto consegue ver, escutar, analisar e interpretar. E é nesta fase que estamos, de escuta e análise, para melhor agir e intervir nos próximos cinco anos.
Num mundo onde a comunicação tem um lugar de destaque e existe maior consciência dos desafios globais que a Humanidade enfrenta, as organizações têm de se posicionar em diferentes contextos, por vezes menos familiares e permeados por desinformação e tensão social. Como é que a FEC está a gerir essa complexidade?
De facto, como dizia ainda há pouco, aos desafios complexos que já conhecíamos, hoje acresce também o desafio da polarização social, muitas vezes acelerada e extremada por fenómenos de desinformação. Na FEC, acreditamos que a Educação para o Desenvolvimento e para a Cidadania Global – tanto em contexto de educação formal e não formal, como em contexto de campanhas de interesse público – tem um papel crucial no entendimento dos desafios globais e dos desafios que se colocam ao processo de desenvolvimento, no reforço do pensamento e da reflexão crítica, na mobilização dos cidadãos e na consciencialização da opinião pública, apresentando-se como um instrumento imprescindível na formação de uma sociedade civil informada e esclarecida e, assim também, no reforço das democracias.
A FEC, através dos grupos de trabalho da Plataforma Portuguesa das ONGD, participou ativamente na construção das sucessivas Estratégias Nacionais de Educação para o Desenvolvimento (ENED) e tem contribuído para a concretização do Plano de Ação da ENED, através do reporte anual das suas ações nesta área. Nos últimos meses, juntamente com as ONGD membro da task force da Plataforma constituída para o efeito, a FEC também contribuiu ativamente para o desenho daquela que se espera vir a ser nova ENED 2024-2030 e que aguarda para breve a aprovação do documento em Conselho de Ministros.
Em síntese, na FEC acreditamos que a Educação para o Desenvolvimento é uma das respostas aos crescentes fenómenos de desinformação, e consequente fragmentação social, e, também por isso, investimos e continuaremos a investir em ações de Educação para o Desenvolvimento. Estas iniciativas procuram sempre o entendimento das complexas origens das assimetrias globais, para, a partir desse entendimento, procurar reparar a raiz das desigualdades e dar lugar a uma vida nova, com dignidade para todas as pessoas, em todos os lugares.
O objetivo final dos projetos passa pela diminuição das desigualdades e a melhoria das condições de vida das pessoas e do Planeta. Como podemos garantir que as mudanças são efetivas e duradouras?
Cidadãos críticos e políticas justas.
Defina a FEC em três palavras.
Diria um adjetivo, que qualifica e caracteriza o nosso trabalho, e dois verbos que impulsionam a nossa ação.
Fiel: organização fiel à sua missão e aos seus valores, enraizados no Evangelho e na Doutrina Social da Igreja.
Acompanhar: organização que acompanha com proximidade e compromisso as pessoas e o momento histórico que nos é dado viver em cada território e contexto.
Permanecer: organização que permanece, mesmo em contextos e momentos de instabilidade e perturbação.

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